sexta-feira, 7 de março de 2014

"chicas feas me dan escalofríos"


     Dois gêmeos ruivos, de seus cinco anos de idade, vestidos de boina, cachecol e óculos arredondados, discutem seriamente um assunto à altura de seus dentinhos de leite.
     - Eu me pareço mais com papai e mamãe: sou mais velho e mais robusto, certamente conseguiria trabalhar bastante até comprar uma casa, como eles.
      -Oh, deus! será que você não percebe que não se pode considerar uma particularidade como medida de algo? Papai e mamãe não passam de trabalhadores medíocres que suaram até conseguir comprar uma casa. Isso não significa nada! Por exemplo, eu não poderia considerar feliz uma pessoa que, particularmente naquele dia em que eu a encontrasse, se sentisse disposta por causa uma situação singular. Uma pessoa feliz é aquela que se sente dessa maneira todos os dias, em meio às mais variadas situações, em um estado de humor minimamente inalterável. Ou mesmo se eu procurasse, veja bem, uma garota bonita. Bonitas sao as garotas que mantem um estado de beleza constante e não aquela que ao sair de casa escolheu um laço interessante, ou ruborizou as faces de modo a parecer graciosa ou mesmo aquela que sob determinada luz soa agradável à vista. Nao, garotas feias, nem sempre parecem bonitas, mesmo que se esforcem. E chicas feas me dan escalofríos! Urgh! Agora imagine a sorte. Como posso considerar sortuda uma pessoa que durante a vida inteira não teve sequer um momento de sorte e num dia inacreditavelmente peculiar topou com algo considerado digno de uma pessoa sortuda? Nao, essa pessoa não é sortuda. Papai e mamãe trabalharam a vida inteira, nada mais natural que conseguissem comprar uma casa, um lar para nos abrigar, afinal  somos pequeninos, é compreensível que nos queiram cuidar. Você não deve se comparar à eles por meio de uma razão tao particular.  Agora vamos  - disse ele pegando a bengalinha e se levantando com cuidado-, meus joelhos estão começando a doer. Enquanto isso, o outro se levanta rapidamente, ajeitando o cachecol e acordando do torpor causado pela verborragia do irmão: "oh, me espere, eu vou junto, acho que esta brisa está me deixando resfriado!"    

P.s.: Esta é mais uma elaborada atividade do meu cérebro inconsciente!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Voltando a falar ainda da maturidade (que parece andar me fazendo cócegas) e explicando coisas...

Eu  costumo me explicar sempre, é uma necessidade estranha de tentar ser entendida. Gosto de não fazer muito sentido, e gosto também de palavras perdidas: são frutos de liberdade, pra mim. Dito isto, explico que mudei o meu blog para a cor cinza. Não me sinto cinza, mas me sentia negra. Uma alma bem preta onde nada podia ser enxergado, apenas pequenos focos de luz, como vaga-lumes. Talvez fosse artifício para não ser profundamente alcançada, e pudesse dar de mim apenas aquilo que quisesse. Ainda continuo assim, meio por trás de paredes, como menina matuta. Mas hoje me sinto mais bege, um pouco mais clara, um pouco mais dada a conhecer. Deve ser daí que a poesia foge, porque para mim, a poesia se faz no trazer do fundo de águas turvas, algum tesouro para a superfície. Ainda tenho alguma umidade, aquela própria de quem desliza, de quem se mostra sem se mostrar, de quem está presente e é sentido sem ser tocado. E apesar de tudo, a poesia ainda faz parte de mim. Acho que se percebe isso nessas minhas poucas palavras metaforizadas. Fruto de uma nova fase, senti a necessidade de apagar este blog, porque nele existe muita coisa que carrego nas costas do passado, mas revendo tudo o que está aqui, decidi que ele permaneceria, mesmo destoando como muito daquilo no que tenho me tornado. Como disse no post anterior, ainda sou meio a velha eu. Por isso ele permanece aqui para as pequenas fugas e agora em um tom cinza, com um pouco mais de luz!

Parolices

   E eis que uma postagem ressurge das cinzas...
   Sempre acho estranho olhar para as coisas que escrevi no passado. E o passado se torna passado muito rapidamente. Lembro que comecei a escrever nesse blog por volta dos vintage e dois e agora já com vintage e cinco, vejo que muita coisa mudou. Talvez nem tantas assim, talvez algumas coisas tenham ficado preservadas no fundo, longe da superfície, enquanto na margem as intempéries continuem agindo... Pelo menos tenho a certeza de continuo com a fala desconexa, as ideias bagunçadas, as palavras reticentes e o olhar de cachorro perdido.
   Sinto falta da poesia, acho que ela tem me abandonado, ou talvez eu a tenha sufocado em nome da maturidade. Gosto do romantismo, não apenas daquele cheio de flores, mas o romantismo idealista, que por vezes se torna até pessimista. Mas percebo também, que aqueles que continuam sofrendo, depois de certa idade, com coisas com as quais a maioria das pessoas não se importa, vivem numa dor que não se acaba, suscetíveis a pequenas variações entre tristezas e alegrias. Por outro lado, acho que as pessoas vivem numa letargia sentimental muito grande, a ponto de todos os que insistem em sentir, verdadeiramente, serem chamados de loucos, imaturos, perdidos, insignificantes e por isso serem enjaulados, reprimidos, silenciados. Eu continuo sendo a pessoa que olha para as outras sem entender muito bem a realidade do mundo adulto. Será que para isso também há alguma nomeada síndrome? Todo desencaixe ao mundo "real e normal" é psicologicamente designado por alguma síndrome. Talvez eu tenha algumas. Apesar de tudo, eu sigo sonhando, ainda, sonhando os medos, as desconexões, as crenças espirituais e recebendo conselhos de algum lugar obscuro de mim, como por exemplo o último, onde por duas vezes alguém me dizia: " O caminho de volta é um caminho que se faz sozinho", concluí que este ser se referia à morte. A morte é algo que não se faz acompanhado. Não sei por que sonhei isso, sei que ficou martelando na minha cabeça depois que acordei.
   Por fim, seguindo a linha da desconexão dos parágrafos e da falta de sentido no meio deles, acho que a maturidade, apesar de tudo, tem lá suas vantagens. Ela te dá um lugar relativamente confortável no mundo, te oferece certa constância, a falsa impressão de mandar no próprio nariz, uma visão mais ou menos apurada das coisas, sei que ela leva embora toda a "eteriedade" da adolescência, e com ela o idealismo, o romantismo, muito da coragem infantil (que é uma verdadeira força revolucionária), mas em compensação, mina alguns medos do desconhecido, uma vez que, supostamente, agora você está no mundo respondendo por si mesmo, dono do seu destino, algo que antes parecia pertencer aos adultos tutores...
   E é isso, cá estou essa nova eu, ainda velha, e ainda em transformação. Prometo cuspir de vez em quando umas coisas estranhas passadas pelo filtro do meu peito!
   

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sinto em mim um fogo, um fogo que eu mesma insisto em negar. Crio para ele muralhas de pedra, de forma que eu não o veja e não o sinta. Mas sei que ele esta lá, se manifestando, brilhando, resistindo, pois se ergo paredes de pedra, o isolo, mas também o conservo. Sei que preciso do vento: é a medida do risco, mas é ao vento que ele se acende,  que ele brilha, baila e se espalha. Preciso me preparar para assumi-lo também, assumir sem medo, porque o fogo é risco para quem é queimado, mas também para quem queima.

 

Chi sa cos'è?  Lascia il tuo fuoco dire...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Blablablando

O maior crime que se pode cometer contra um indivíduo é sufocar a sua criatividade. É um crime silencioso que cometemos contra nós mesmos, muitas vezes.

E por favor, não quebre o silêncio. Silêncio é uma dádiva!

Se quiser uma grande dica de sobrevivência, eis: se não entender, dance! Quero dizer,  dançar traduz impulsos, a vida não é matematizada, ela é ordem sobre o grande palco do caos. Precisamos nos comunicar, traduzir impulsos de forma a serem compartilhados, mas o que vibra em nós são as paixões, do ventre até a ponta dos dedos, dançar é se deixar conduzir, se deixar encaixar, se aquietar de si e deixar que o corpo se movimente... se não quiser dançar, digo, fisicamente, simplesmente se deixe levar, que esquecer também é uma forma de movimento...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Me surpreendo, quando penso, com a minha capacidade de fugir. Fujo da realidade, fujo dos sonhos. Afinal, parece que no fim não estou em lugar nenhum, apenas tentando me encontrar e fazendo isso sempre por detrás dos muros. Sinto que a minha vida se divide entre sonhos e um rascunho da realidade e é quase como se isso fosse um grande abismo, uma grande farsa, camadas e mais camadas de irrealidade. E, sinceramente, nem me lembro quando comecei esta fuga, acho que deve ter sido quando deixei de ser criança, quando vi que existia uma realidade e eu não queria aceitá-la. A responsabilidade sempre me pesa e se me especializei em algo, foi nisso: na fuga. Até de mim mesma.

Ando tentando encontrar o começo e reescrever essas linhas, ter coragem de encarar de novo a realidade e isso inclui olhar sem medo para mim mesma, me ver nua e assumir isso.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Respirar



Este é, sem dúvida,  um filme que entrou para a série dos meus filmes preferidos: alimenta algumas fomes. Vale para ouvidos sensíveis, olhos sedentos e almas atentas.